“Moa ponderou que era negro e que o cara ainda era muito jovem e não sabia nada da história. Moa disse ainda que ele tinha consciência do quanto o negro lutou para chegar onde chegou e o quanto Bolsonaro poderia tirar essas conquistas se chegasse ao poder“. (Reginaldo Rosário, irmão de Moa)
A polarização social das eleições tem causado muitas brigas nas redes sociais, nos grupos de amigos e família. Uma eventual descontração no bar gerou um grande conflitou que levou à morte do Mestre capoeirista. Ele estava com seu irmão que, ao tentar separar, também foi atingido com um golpe de faca no braço direito, mas foi socorrido e permanece internado e sedado.
Mestre Moa do Katendê foi assassinado com 12 facadas na noite em que se encerrou o primeiro turno das eleições no Brasil, em 7 de outubro de 2018. Ele e o seu irmão foram esfaqueados em um bar no Dique Pequeno em Salvador, bairro em que residia, após discussão sobre política. Segundo os relatos, um morador novo do bairro, defensor do Bolsonaro não teria gostado da posição contrária do mestre, foi até sua casa e buscou uma faca. Katendê foi agredido e seu irmão que o acudiu também, mas Moa não sobreviveu. O irmão Germínio do Amor Divino, 51, recebeu uma facada no braço direito e foi socorrido para o Hospital Geral do Estado (HGE). Na ocorrência do posto policial do HGE, testemunhas identificaram o autor das facadas como Paulo Sérgio Ferreira, que está preso. Segundo o irmão das vítimas, Reginaldo Rosário, 68, Moa estava bebendo com ele e Germínio, no Bar do João, quando o autor da facada começou a defender ideias do candidato do PSL e ouviu críticas do capoeirista. “Moa ponderou que era negro e que o cara ainda era muito jovem e não sabia nada da história. Moa disse ainda que ele tinha consciência do quanto o negro lutou para chegar onde chegou e o quanto Bolsonaro poderia tirar essas conquistas se chegasse ao poder”, disse Reginaldo. Ainda de acordo com o irmão das vítimas, após a discussão acalorada um dos irmãos pediu que Moa ficasse calmo; no entanto, após a situação ter sido contornada, o autor da facada teria ido em casa, retornou com uma peixeira e atacou a vítima nas costas. “Foi tudo muito rápido”, disse. “Moa, que sempre foi defensor das classes menos favorecidas, é mestre tradicional da Capoeira Angola da Bahia e do Afoxé (um dos fundadores dos Filhos de Gandhi) e uma das melhores pessoas que já conheci. A Capoeira perde um grande mestre e eu perco vários amigos”. Digo “vários” porque ver um capoeirista apoiar um político declaradamente racista, pra mim, é pior que cair de cara no chão após uma rasteira alta. É preciso entender a história da arte. É preciso saber que pouco mudou e que, agora, o racismo saiu do armário e não tem vergonha de destilar o seu ódio. Por trás de interesses escusos, aí está a Casa Grande Senzala se armando novamente. Que a morte do mestre não seja em vão! Vamos fazer o berimbau dizer a que viemos.
À luta! E viva “seu” Moa, agora mártir da nossa batalha.
Breve histórico
Môa do Katendê nasceu em Salvador (BA) e é um artista ligado às tradições afro-baianas. Compositor, dançarino, capoeirista, ogã-percussionista, artesão e educador, descobriu suas raízes aos oito anos de idade no “ILÊ AXÉ OMIN BAIN”, terreiro de sua tia e incentivadora. Em 1977, consagrou-se campeão do Festival da Canção Ilê Aiyê, o primeiro bloco afro do Brasil, e em Maio de 1978 fundou o “Afoxé “Badauê”, que desfilou pela primeira vez no ano seguinte e tornou-se campeão do carnaval na categoria de afoxé. Em 1995 com a união de colegas e admiradores da cultura afro-brasileira, surge o grupo de afoxé “Amigos de Katendê”. Foi membro da Associação Brasileira de Capoeira Angola, discípulo de mestre Bobó de Pastinha.
E as minas foram para cima… construir o seu próprio berimbau com as suas escolhas, com o seu axé e no seu tempo.
Tempo que a gente cria para desfrutar mais da vida, da música, do construir e das amizades. Agora, tempo gingado na cadência do berimbau.
Agradecendo especialmente ao Prof Tuca e Isla, da Casa de Zungu Capoeira Angola, pelo tempo de ensinar e compartilhar.
Berimbau mulher resistência ancestral.
Mestre Durval do Coco
Assista o vídeo, clique no link Mestre Durval do Coco
Mestre Durval do Coco ensina como se tira coco ligeiro na escola EMEF Des Amorim Lima, com o CEACA.
É muito axé !!!
Volta e meia as pessoas nos questionam sobre a nossa participação na capoeira. Não existe uma resposta padrão para tal pergunta, mas podemos levantar alguns motivos esclarecedores às ideias primeiras de algumas pessoas.
Não fazemos capoeira para bater em algum abusado na rua, pois por mais forte que possamos ficar através dela, dificilmente seremos mais fortes fisicamente que um homem.
Não fazemos capoeira para tomar o lugar dos homens na roda, pois a roda como elemento circular tem espaço para todos nos momentos certos e entendemos isso, nem que o nosso momento demore gerações.
Não fazemos capoeira para arrumar maridos, mas para encontrar parceiros de luta.
Não fazemos capoeira para ficar com um corpo desejável, mas para ficar com a alma limpa.
Não fazemos capoeira para “causar”, mas para nos encontrar.
E o mais importante…fazemos capoeira porque reconhecemos nesta luta ancestral, A NOSSA LUTA, por respeito, legitimidade, dignidade, para ler a malícia daqueles que querem nos oprimir, antes mesmo de nos ofenderem com as suas palavras ou ações, porque ela nos dá força e exemplos que mesmo sendo difícil é possível de encontrar meios de sobrevivermos e lutar pela liberdade.
Capoeira resistência ancestral.
K.M.
Retire a sua identidade, solape os seus modos de ver e entender o mundo, o convença de que a sua cultura vale menos do que a daquele que o oprime.
Os meios como isso ocorre são diferentes em cada época, cabe aos sujeitos, identificar e resistir.
Capoeira resistência ancestral…
(imagem retirada spc.fotolog18.05.2016)
PARA NÃO ESQUECER
DAQUILO QUE VI DE PERTO
DO QUE SENTI NA PALMA DA MÃO
FLERTADO NA PONTA DO PÉ
TRISCADO NO ARAME
CAPOEIRA CAMARADA