Tudo começou em 1969, no aquário, uma piscina carinhosamente assim denominada pelos moradores do CRUSP, Conjunto Residencial dos Moradores da USP, na época ISSU, Instituto de Saúde e Serviço Social. O local  das aulas era o vestiário dessa piscina, até então desativada após a invasão militar do CRUSP no final do ano de 1968. Esse curso de capoeira era ministrado pelos Mestres Eli Pimenta (aluno da FFLCH, Ciências Sociais) e Mestre Freguesia, baiano de Itabuna, ambos formados pelo Grupo Cordão de Ouro do Mestre Suassuna; o curso era frequentado por alunos, professores e funcionários da USP; após 1970, o curso passou pelos CAs da Ciências Sociais e FAU e a partir daí  o curso passou a ser oferecido em um galpão que ficava entre a Poli (civil) e a FEA até 1990 quando o mesmo foi demolido, então fomos transferidos com nosso trabalho para o CRUSP novamente, a convite da AMORCRUSP, Associação dos Moradores do CRUSP.

Em 1988, Mestres Alcides de Lima e Dorival dos Santos elaboraram o Estatuto Social do CEACA, com um projeto denominado “Expresse-se com Consciência – Faça Capoeira”, essa iniciativa foi elaborada com o objetivo de trabalhar a capoeira principalmente em seus aspectos culturais, desenvolvendo no indivíduo suas aptidões para as artes em geral e também na educação formal. Nesse ano, foi fundado o CEACA (Centro de Estudos e Aplicação da Capoeira), pelo Mestre Alcides de Lima que se iniciou na capoeira em 1969 com Mestre Eli Pimenta que por sua vez foi formado em capoeira no final da década de 1960 pela Associação de Capoeira Cordão de Ouro.

FILOSOFIA DO CEACA

A filosofia do grupo CEACA reside na busca da participação e a integração do indivíduo às artes em geral (música, dança, teatro e etc.), com desenvolvimento de suas habilidades e aptidões, tendo como fio condutor deste desenvolvimento, a cultura afro-brasileira e em específico a CAPOEIRA. Desde 1990, com o projeto “Expresse-se com Consciência: Faça Capoeira”, Mestre Alcides de Lima e Mestre Dorival têm levado a Capoeira para escolas públicas tanto quanto vêm difundindo a Capoeira por vários locais no Brasil e no mundo:

  • Fort Collins, Colorado, EUA, 1995, 1996, 1997 e 1998 (Universidade Estadual do Colorado (CSU): esse foi o ponto de partida para a formação de um grupo de capoeira que tem a nossa coordenação até os dias de hoje, em Fort Collins;

  • Bordeaux, França, abril de 2000 (Associação Beira Mar de Capoeira – CEACA);

  • Bowie, Maryland, EUA;

  • San Juan, Puerto Rico;

  • Brasil: Paraná, Terra Rica; São Paulo, no Colégio Stella Maris, em Pinheiros, no Lions Club, no Butantã, no Liceu Pasteur e na EMEF Desembargador Amorim Lima, desde abril de 2000 no Projeto Ver para Crer, coordenado pela Prefeitura de São Paulo.

Dentre vários projetos importantes dentro dessa filosofia, o CEACA ministrou outro projeto em parceria com o Depto. de História da USP, chamado Minha História; foi elaborado para crianças da Favela do São Remo (vizinha a USP), com objetivo de desenvolver nas crianças e adolescentes o gosto pelas artes, pois elas permaneciam no Campus sem nenhuma atividade lúdica, e ao mesmo tempo a universidade não lhes oferecia nenhuma opção cultural e de lazer. Atualmente, temos agentes culturais no CEACA que são frutos desse projeto, outros vieram inclusive com a viagem para os Estados Unidos de 1995 até 2000, a convite da Universidade Estadual do Colorado, na cidade de Fort Collins, do qual participavam anualmente junto com Mestre Alcides coordenador do projeto até 3 alunos do CEACA. Em 2000, fomos convidados para implantar um programa de cultura popular brasileira em uma escola da prefeitura aqui na Zona Oeste da cidade de São Paulo, EMEF Des. Amorim Lima; essas oficinas iniciaram somente após o período das aulas normais, ou seja, a partir das 18h e aos sábados.

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Roda de capoeira das crianças no Amorim Lima.

Em 2005, através de Edital do Ministério da Cultura, fomos selecionados com Ponto de Cultura “Amorim Rima/CEACA”, proc. 9521/2005-03; em 2006 e 2007, fomos selecionados pelo projeto Ação Griô da Tradição Oral e outros editais do MinC. Em 2009, fomos selecionados como Ponto de Cultura do Estado de São Paulo/MinC, contrato: 439/2009 – proc. 001820. Na EMEF Des. Amorim Lima o projeto faz parte do projeto pedagógico da escola; constam no currículo escolar a capoeira, coco, ciranda, samba de roda, samba duro, puxada de rede da pesca do xaréu, toré, cordel e toda musicalidade dessas danças; esse projeto ainda é desenvolvido no Instituto Oceanográfico da USP e na Creche Girassol na favela do São Remo para 120 crianças de 2 e 3 anos.

Samba de Roda na sala do CEACA

O Samba de Roda acontece na sala do Centro de Estudos e Aplicação da Capoeira com a participação dos mestres.

Pensando em estruturar um conhecimento popular que invariavelmente não é reconhecido pelas instituições sociais por ter características próprias que por vezes vão contra o pensamento vigente, nós do grupo CEACA de capoeira elaboramos em conjunto com a escola EMEF Dês. Amorim Lima, escola publica da cidade de São Paulo da região do Butantã, que possui um projeto político pedagógico que valoriza a pluriculturalidade como meio transformador e formador de cidadãos autônomos e participativos na sociedade, uma proposta pedagógica para o ensino da Cultura popular brasileira: capoeira, puxada de rede (da pesca do xaréu), samba de roda, maculelê, samba duro, ciranda, toré, coco, mas que esteja inserido no projeto pedagógico do ensino formal.

Proposta que considera a educação como bem comum para todos assim como a cultura popular, já que a entendemos como elementos construídos e ressignificados pelo povo.

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Professores e aprendizes do CEACA.

Projeto: Justificativas

A função da escola é a formação de cidadãos com autonomia, transmissão de conhecimentos culturalmente construídos e preparação para o trabalho e para a vida.

Consideramos a Capoeira e as demais danças tradicionais como elementos da cultura popular brasileira e como tais, com características próprias que as constituem e que são fundamentais para a formação de identidade de um povo, desta forma na escola buscamos levantar os elementos que fazem com que os educandos e educadores se identifiquem com essas manifestações.

Desta forma em conjunto com a escola formamos uma atitude de respeito para com as diferenças culturais, raciais, de credo e quaisquer outras, de todos e para com todos. A convicção de que cada aluno é único, pode e deve permanentemente construir e exercer sua identidade no seio de um coletivo que não a mitigue ou aplaque.

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Musicalidade no Amorim Lima, 2004.

Objetivos Gerais

Dentro do contexto do presente projeto, onde em resumo queremos explorar a capoeira e a cultura afro-brasileira como instrumento de inclusão da criança no sistema formal de educação, na sua permanência (redução da evasão) como uma ferramenta que possibilite um diálogo diferenciado entre o aluno e o educador, podemos nos referir ao Artigo 3º do estatuto como missão do CEACA:

  • Desenvolver toda e qualquer atividade cultural, visando o engrandecimento de indivíduo, tendo como proposta principal a capoeira;

  • Usar a capoeira como uma ferramenta de educação, no sentido de formação integral do indivíduo, produzindo material didático-pedagógico e documental;

  • Difundir a capoeira, em particular a cultura afro-brasileira, como um todo, em entidades culturais, associativas e estabelecimentos de ensino fundamental, médio e superior.

Assim propomos desenvolver e aplicar um ferramental, produzido dentro da capoeira, que possibilite uma prática diferenciada para a introdução da criança na estrutura formal de ensino e uma abordagem diferenciada de questões relacionada ao ensino formal de adolescentes.

Dentro do projeto pretendemos estimular na criança e no adolescente a prática e a visão da escola dentro de um conceito lúdico e crítico. Além disto, o desenvolvimento da noção de espaço, ritmo, distância individual ou grupal e coordenação motora, através da assimilação dos movimentos, técnicas e gestos ligados a capoeira, o coco e a ciranda onde elas joguem capoeira, dancem coco, toquem, cantem, e também se organizem (com orientação e apoio dos professores) em coreografias para apresentações em datas festivas e comemorativas da escola, ou para outros motivos exigidos.

Este desenvolvimento deve ser tal que as crianças se manifestem e exijam com objetividade o que querem nas aulas e nas apresentações, sugerindo e participando das atividades afins.

Objetivos Específicos

Os objetivos específicos das oficinas são a transmissão dos elementos que constituem a capoeira e a cultura popular preservando sua pratica e principalmente sua oralidade, possibilitar a musicalidade e a teatralidade em todas as manifestações já citadas. Desenvolver no educando, através da pratica e vivência, suas estruturas corporais, expressão verbal, corporal, equilíbrio psicomotor, lateralidade, imagem/esquema corporal, aquisição de metalinguagens, impulsionando à criatividade e a interdisciplinaridade.

  • Possibilitar o contato direto entre as crianças e os mestres e griôs da Tradição Oral através do reconhecimento e valorização destes como portadores de conhecimentos tradicionais e significativos.

  • Favorecer o reconhecimento por parte dos educandos da importância social, histórica e filosófica das manifestações populares de Tradição Oral.

  • Favorecer o reconhecimento por parte dos educandos do seu papel histórico na manutenção destas manifestações populares de Tradição Oral.

Fonte: http://www.acaogrio.org.br/acaogrio-blogs/regional-da-terra/assoc-centro-de-estudos-e-aplicacao-da-capoeiraceaca/#informacoes-gerais

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